O ano de 2016 colocou à prova os principais setores da economia brasileira, mas a diversidade de atividades produtivas desenvolvidas em Uberlândia minimizou o impacto da recessão na cidade, segundo economistas. Entidades representativas e especialistas nos segmentos da construção civil, agronegócio, indústria, comércio e tecnologia apostam nas reformas da previdência e na recém-aprovada PEC 55/241 – a PEC do Teto -, para a aumento da confiança no mercado e a consequente retomada do crescimento. Para esses setores, as retomadas também dependem das reformas trabalhista, tributária, da terceirização e da transição da gestão municipal ao candidato eleito, Odelmo Leão (PP). Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a economia brasileira começará a se recuperar lentamente em 2017. A projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) é de crescimento de 0,5%. "A palavra-chave para a tomada de decisão em investimento é confiança. Ou seja, segurança política, econômica e jurídica. Neste momento, no País, a confiança está diretamente ligada à aprovação de projetos de lei e reformas", afirmou o economista Rafael Nori. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-TAP), Pedro Spina, o conjunto de providências tomadas pelo Governo Federal vai influenciar diretamente a construção civil. "Dependemos da redução dos gastos, flexibilização das leis trabalhistas, aprovação da terceirização e reforma da previdência", disse Spina. Para Pedro Spina, depois de 3 anos com resultados negativos, construção deve crescer em 2017 (Foto: Cleiton Borges) O mesmo acontece com o Comércio, conforme o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Uberlândia, Cícero Novaes. “Eliminamos o problema principal, ou seja, a incapacidade de governar o País, e tudo colaborou para o sentimento de melhoria. Agora, dependemos de reformas e restrição de gastos para que os investidores que têm dinheiro deixem o mercado rentista.” Construção e habitação A construção civil fecha 2016 com resultado negativo no Brasil pela terceira vez consecutiva. “Em Uberlândia, estimamos que houve retração de 15% no crescimento. Para 2017, vislumbramos retomar a perda e avançar na casa de 5%”, disse o presidente do Sinduscon-TAP, Pedro Spina. O Sindicato da Habitação (Secovi) tem o objetivo de, em 2017, continuar e ir além dos resultados positivos no último trimestre de 2016, que foi o crescimento de cerca de 20% dos negócios. “Tudo vai depender das reformas que o Governo Federal conseguir passar, pois a melhoria da economia depende de confiança” disse o diretor financeiro do Secovi, Ronaldo Arantes. Em 2016, a entidade estima que houve uma retração de até 40% nos primeiros nove meses do ano. “O segmento mais impactado foi a venda. A locação se manteve estável, com a taxa de desocupação quase idêntica à taxa de ocupação”, afirmou Arantes. Outro desafio é equilibrar o valor de venda e locação de imóveis, que chegou a 10% e 15%, respectivamente. “O aluguel nunca esteve tão barato em relação ao preço venal do imóvel, atingindo 0,35% do total”, disse Arantes. Indústria Conhecida como primeiro setor produtivo a ser impactado e último a se recuperar da recessão, a indústria teve desempenho pior que o esperado em 2016, quando Uberlândia perdeu grandes operações, como a têxtil Daiwa. A redução da produção no Estado atingiu 11,1% em outubro, quarto maior índice do País, segundo o IBGE. Para 2017, as entidades do setor estimam cenário semelhante. “Foi um ano difícil, pelo reajuste das alíquotas do ICMS em Minas Gerais”, dise o presidente da Fiemg, Everton Magalhães. Tecnologia O crescimento estimado do setor de Tecnologia da Informação (TI) é de 6% em 2017. Entre as tendências, está a retomada de investimentos represados em 2015 e 2016 por grandes corporações em função da recessão e seu direcionamento ao custeio de infraestrutura de rede na nuvem, segundo o vice-presidente de Estratégia e Inovação do Grupo Algar, Clau Sganzerla. “Outra tendência é a simplificação, ou seja, criação de soluções mais ágeis, baratas e compartilhadas.” Clau Sganzerla acredita que as tendências para 2017 serão a volta de investimentos e simplificação de sistemas de tecnologia (Foto: Celso Ribeiro) A partir dessas tendências, o estímulo à inovação também deve aumentar. “Em 2017, as startups devem continuar crescendo 20%, sobretudo, pela existência de um ecossistema que referencia o desenvolvimento de projetos”, disse o analista do Sebrae, Fabiano Alves. O Grupo Algar deu um passo importante no sentido de fortalecer o ecossistema da inovação no Brasil, ingressando no fundo BR Startups, de até R$ 300 mil, para financiamento de iniciativas inovadoras. Agronegócio Os bons resultados do agronegócio em 2016 devem se manter em 2017. A previsão da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) é manter o desenvolvimento na casa dos 2% em 2017, após crescimento de até 3% em 2016. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Thiago Fonseca, apesar da estiagem na safrinha, a agricultura uberlandense ganhou no preço em 2016. “O milho, por exemplo, passou de R$ 35 a R$ 50. O mesmo aconteceu com o leite, que teve alta histórica. Para 2017, temos plantios na normalidade e estudos agrometeorológicos, indicando que não haverá seca no início do ano.” Ao contrário dos setores tradicionais da economia, o agronegócio não é diretamente impactado pela macroeconomia, segundo o consultor Marcelo Prado. “Há anos, a agricultura aumenta índices de produtividade, usa alta tecnologia e abre mercados no mundo, o que traz segurança. A pecuária também se profissionalizou nos últimos 5 anos, com ganhos de produtividade e abertura de mercados. O setor mais frágil ainda é o leiteiro, que depende muito do mercado interno.” Entre os fatores que podem influenciar o setor, está a política externa de Donald Trump. “Brasil e Estados Unidos são os grandes provedores de alimento do mundo. Então, estamos sujeitos à relação que Trump estabelecer com a China”, afirmou Fonseca. Já o consultor Marcelo Prado acredita que o Brasil se beneficiará da política protecionista americana. “Trump deve reforçar as barreiras para a importação de produtos da China, o que gera desgaste”, disse Prado. Comércio O ano de 2017 também deve ser difícil para o segmento do comércio, cujas entidades representativas projetam sinais de recuperação apenas para o fim do ano. “Vamos depender do cenário que se desenhar em Brasília, mas as micro, pequenas e médias empresas devem continuar passando por dificuldades. Sobretudo no primeiro semestre do ano. Depois, deve começar um desbravamento, concretizado em 2018”, disse o presidente da CDL de Uberlândia, Cícero Novaes. Para Cícero Novaes, retomada do crescimento do comércio só deve ser concretizada em 2018 (Foto: Celso Ribeiro) A expectativa da entidade é de que os consumidores aproveitem o pagamento do 13o salário para quitarem as dívidas. “A inadimplência cresceu, pelo menos, 5% neste ano, pois, em 2016, não houve mudança real na economia pelo travamento da política. Então, mesmo que o Natal seja mais apertado, as pessoas poderão entrar 2017 sem dívidas, retomando o poder de compra. O que acreditamos ser possível, pois as pessoas estão mais experientes com relação ao endividamento. Se houver aumento nas vendas de Natal, não deve ultrapassar os 2% sobre o ano passado, até pelo cancelamento do Natal Luz.” De acordo com ele, o fechamento de comércios ainda é superior à abertura de novos estabelecimentos. “Entre 2015 e 2016, cerca de 2 mil empresas fecharam as portas, sobretudo, micro, pequenas e médias. Além disso, temos uma série de empresários endividados. Acreditamos que, no segundo semestre de 2017, este saldo pode voltar a ser positivo com mais abertura do que fechamento. Um indício para isso é o crescimento de até 10% no faturamento da maioria dos negócios no último trimestre”, afirmou Novaes. Atualmente, há pelo menos 37 mil comércios em Uberlândia. |